Enigma do poder (New Rose Hotel, 1998)

O comentário é curto. Justamente porque o filme não merece mais do que algumas linhas de atenção. Sinceramente, não consigo entender como algumas pessoas gostam de uma coisa dessas. Antigamente, quando entrava com mais freqüência em fóruns de cinema, sempre havia aqueles cinéfilos que diziam ser Abel Ferrara “um dos melhores diretores em atividade”, “um incompreendido”, “gênio marginal”. Mais ou menos assim. É claro que em algum momento iria adentrar nesse universo. Pois bem, O rei de Nova York [The king of New York, 1991] foi minha primeira experiência com o diretor. Experiência traumática. Depois Vício frenético [Bad lieutenant, 1992], um pouco melhor mas ainda óbvio e oportunista (até mesmo a atuação de Harvey Keitel me parece histérica demais, apesar de ser o destaque mais positivo do filme, que tem, além disso, uma grande cena na igreja – até quem não viu o filme deve saber, pois a seqüência é mesmo emblemática). Por último, já com os dois pés atrás, veio este Enigma do poder, outro filmeco. O visual é de mau gosto, com algumas seqüências a lembrar aqueles filmes-B que passam na televisão aberta durante a madrugada. Bom, talvez o filme se encaixe mesmo nessa sub-categoria. Começa até bem com uma história de espionagem, em tempos cibernéticos, em que as empresas dominam toda a sociedade através de acordos obscuros, violência e corrupção. O poder supra-estatal corporativo atuando, para garantir mais e mais lucros, especialmente no sub-mundo (este é o habitat preferido do diretor). Aliás, quais são os temas que mais interessam a Abel Ferrara? Por enquanto, arrisco dizer: prostituição, violência, vícios, culpa católica (?!?!), masoquismo… Sempre acima do tom, como se quisesse berrar para o mundo perceber “como ele é um ser humano atordoado”. Enigma do poder depois se revela um filme mais, digamos assim, introspectivo (diz o personagem de Christopher Walken: “Introspecção? De onde vem isso? Não pega bem a um cavalheiro ser introspectivo.”), com a figura de Asia Argento se deslocando para o centro da narrativa a partir das lembranças de seu companheiro (interpretado por Willem Dafoe) que quer saber se foi ou não enganado. O último terço do filme é como se fosse um Dom Casmurro futurista underground softporn, para se ter noção do tipo que estamos lidando.