Como bem definiu a Criterion Collection em seu site, The Blob é um filme de prazeres inesperados. Não apenas por ser a estreia de STEVE MCQUEEN – o único com letras maiúsculas, com todo respeito que o diretor, de carreira promissora, merece – como protagonista, mas por retratar tão bem parte da sociedade americana dos anos 1950, focando especialmente nos anseios dos jovens crescidos no pós-guerra, período de enorme avanço social, cultural e econômico nos Estados Unidos.
Com um orçamento apertado, os diretores Irvin S. Yeaworth Jr e Russell S. Doughten Jr. (não creditado) apostaram na fórmula consagrada em Assim estava escrito (The bad and the beautiful, 1952), do grande Vincente Minnelli, ou seja, instigar a imaginação do público, fazendo com que o monstro aparente ser mais assustador do que de fato é – afinal de contas, estamos falando de uma ridícula bolha vinda do espaço que toma o corpo das pessoas que com ela entram em contato, aumentado, consequentemente, de tamanho e apetite…
No entanto, o grande trunfo do filme não é exatamente a construção do suspense. Ele existe, rendendo inclusive algumas cenas de susto e tensão exemplares, mas o que chama mesmo a atenção é o delicioso retrato de uma pequena cidade americana dos anos 50, com seus jovens repletos de esperança, ansiosos por entretenimento e experiências na vida. The Blob consegue captar extremamente bem essa inocência perdida dos adolescentes, naquele período em que a liberdade sexual e o rock and roll floresciam. A camaradagem dos amigos, os romances, as sessões de cinema, os carros, as roupas… Tudo isso nos faz ter vontade de viver aquele período especial.
O monstro, desconhecido e sem personalidade, apenas amplifica a necessária e eficaz construção de personagens-chaves que representam, cada qual a seu modo, parte da comunidade, que deve se defender, com seus parcos recursos, da ameaça externa – seria a bolha, vermelha, uma alegoria ao inimigo comunista? Ou qualquer tipo de perigo inesperado e grande o suficiente para unir as pessoas? Como ela não tem personalidade definida, pode se adaptar ao longo do tempo, sendo essa, certamente, uma das explicações para o filme funcionar tão bem até hoje.
Algumas cenas são emblemáticas, como o momento em que os jovens protagonistas, no início do namoro, avistam uma estrela cadente – na verdade, exatamente o monstro extraterrestre. Ou quando um curto-circuito, provocado pelo tropeço de uma das vítimas, acaba por trazer escuridão à casa onde a bolha, pela primeira vez, assume completamente a sua forma (o momento de maior tensão do filme). Mas, entre todas, a melhor, totalmente clássica, é aquela em que o público de uma sala de cinema, em plena exibição da sessão de meia-noite, corre apavorado após o ataque do monstro (até hoje em Phoenixville, Pensilvândia, onde a história acontece, as pessoas recriam essa cena na chamada “Blobfest”, atração anual da pacata cidade).
Não custa repetir: é uma delícia de filme, com muitos prazeres inesperados. E o primeiro deles pode ser conferido já nos créditos iniciais, certamente um dos melhores já feitos, com a maravilhosa canção-tema de Burt Bacharach e Mack David.