Corrida contra o destino (Vanishing Point, 1971)

Atravessando o oeste americano, por muitas das estradas percorridas por Sal Paradise e Dean Moriaty, Kowalski (Barry Newman) sai do Colorado para São Francisco, com a missão de levar um Super Dodge Challenger para o seu dono em tempo recorde. Havia apostado com um amigo que cumpriria o objetivo – mas, mesmo se não houvesse aposta alguma, Kowalski não diminuiria sua velocidade. Está disposto a correr no deserto. Ele, o carro e a estrada – nada mais importa. Logo chama a atenção de policiais rodoviários, que ordenam sua parada. Quem acredita que isso irá acontecer, está assistindo ao filme errado.

Os policiais, então, passam a se comunicar entre si para resolver o problema. Pela freqüência do rádio, um radialista negro e cego (Cheavon Little), capta a situação: um homem está sendo perseguido por correr demais. Surge, pelo olhar do homem cego, um herói – “o último herói americano, a última alma livre e bela do planeta”. Os ouvintes passam a conhecer o motorista solitário. Alheio a tudo isso, Kowalski continua correndo e já se confunde com o Challenger: dois fugitivos, não apenas da polícia, mas do passado – através de flashbacks, conheceremos melhor o protagonista: passando por policial íntegro a piloto de corrida, Kowalski não se firmou em nenhuma vocação, talvez por ter sido bom demais, e carrega dessas experiências desilusões e amarguras. Ex-fuzileiro, herói na Guerra do Vietnã, a maior tragédia de sua vida aconteceu em uma praia calma. É uma alma ferida. E se, há 25 anos atrás, os personagens de On the road, seguiam alucinadamente as estradas da vida ao som de um jazz furioso, Kowalski é levado adiante pelas raízes sulistas e do meio-oeste americano na década de 70: do country, passando pela música hippie ao rock and roll.

Kowalski é um herói, mas não tem intenção alguma de ser mais do que ele é. Sua transformação não parte de si mesmo – no começo do filme, seu caráter permanece sólido até o final, a de um homem que procura a liberdade em sua plenitude, nas estradas. É a idealização dele por parte do radialista – e, por extensão, do público – que o transforma em um semideus daquela geração. Não por acaso, o motorista solitário, encontrará pelo caminho hippies, nudistas, homossexuais criminosos e pessoas sem destino – e, Kowalski, correndo pelas estradas está seguindo exatamente os trilhos da liberdade tão almejada por todos eles, até o último ponto de fuga, a última possibilidade de seguir em frente, enquanto houver luz.

OBS.1: Dustin Hoffman + Elliott Gould = Barry Newman.

OBS.2: Clique aqui para baixar a trilha sonora do filme.

8 comentários

  1. maicon2011 disse:

    Olha o carro de Death Proof, tava louco pra lr sobre esse filme! Thanks! 😛

  2. caiolefou disse:

    Do nada passa uma mulher andando numa motoneta com os peitos de fora. Genial. Mas a abordagem filosófica também é legal, hehe.

    1. Hahaha, a geração hippie foi muito louca. É um filme existencialista, velho… é mais profundo do que “uma jornada de perseguição”, ou algo do tipo.

  3. Marcelo disse:

    Aqueles flashbacks sao muito legais. O cara ta correndo no deserto e corta pra mostrar q ele tinha uma historia, uma mulher, diversas profissoes

  4. Eu tinha 18 anos, em 1971…. até hoje aquele filme(Vanishing point) ainda desfila na minha retina. Filme e trilha sonora, um casamento perfeito. Só lamento ter que entender que, toda aquela época, passou. Éramos uma juventude realmente diferenciada. Captávamos a essência. Não era necessário mais que isso. Aquele surpreendente filme marcou a minha adolescência.

  5. Alex disse:

    Este filme me marcou pelo fato do ronco do maravilhoso Dodge Challenger branco (tenho um Maverick branco), a trilha sonora maravilhosa, principalmente na parte que ele, kowalski, se recorda de sua finada amada. A trilha sonora é interrompida de súbito pela cena do pneu do Dodge estourando. filme maravilhoso!

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