Um pouco sobre Depois do vendaval (The quiet man, 1952)

Com mais um sucesso, começou Depois do vendaval (1952). Ford trabalhou no argumento durante anos. Maureen O’Hara lembrou fins de semana no Araner logo depois da Segunda Guerra Mundial, onde Ford mandava para terra as crianças, punhas alguns discos de música irlandesa a tocar e ditava notas a O’Hara, que depois as datilografava. Ford contratou Richard Llewellyn, o autor de Como era verde meu vale, para escrever o primeiro rascunho do argumento, e depois Frank Nugent para o argumento final.

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Instalados no Castelo de Ashford, em County Mayo, grande parte das filmagens foi realizada nas redondezas da aldeia de Cong. Como sempre, Ford insistiu em que todo o elenco estivesse de roupão nos cenários todos os dias, quer estivessem escalados para filmar quer não. Ford trabalhou meticulosamente para este filme, tendo de lidar com a natureza chuvosa da luz na Irlanda. Como assistente de operador de câmera, Ernest Day lembraria: “Se estava mau o tempo, esperávamos… quando o tempo melhorava, lá íamos nós”.

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Ford conhecia o argumento de trás para a frente, mas também lhe deu caracteristicamente espaço para respirar, com pedaços cuidadosamente escolhidos no cenário, ou tirando partido de um determinado momento, como com a cena de John Wayne a galgar através do campo para ir buscar sua mulher. Ao ver um belo prado verde com algumas gaivotas, Ford ordenou ao operador de câmera que se preparasse rapidamente e pediu a Wayne que passasse pelas gaivotas. Elas levantaram voo todas as ao mesmo tempo, oferecendo uma rápida ênfase visual de beleza.

A empresa passou seis semanas na Irlanda, e John Wayne levou com ele os seus quatro filhos para passarem as férias de verão com o tio Jack.

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Algumas semanas de trabalho nos estúdios da Republic novamente em Hollywood, e Ford tinha terminado um de seus filmes mais adorados. Depois do Vendaval nunca teve de ser redescoberto; cada nova geração aceitou-o como a benevolente obra-prima que é, com o público a tirar o mesmo prazer que o herói do filme, envolvido no quente verde e no ardente vermelho da Irlanda. É um filme elogioso e festivo, literalmente expansivo – toda a comunidade partilha os problemas de Sean Thornton, e a sua alegria quando da reconciliação com a mulher.

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Innisfree bem que se podia chamar Brigadoon, pois é um local longe das preocupações do mundo. Pouco há que ligue o que se passa no écrã ao século 20. Com o passar dos anos, as feministas, induzidas em erro devido às desajeitadas imitações posteriores de John Wayne – e uma vez de Ford – acusaram falsamente Depois do vendaval de ser misógino – isto num filme em que a principal personagem feminina se recusa a ceder em relação à ordem dominante, ou ao seu marido, até ter o que é dela por direito.

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O filme é inteligente em relação à mudança da natureza do poder numa relação sexual, o que muitas vezes o torna mais num conto de fadas – é uma história de duas pessoas que não conseguem viver juntas até que cada uma delas aprenda a ser humilde e submeter-se à outra. É um também um sonho exilado, de uma terra e de um povo que nunca conheceu. Deu a Ford o seu último Oscar de Melhor Diretor e tornou-se o seu maior sucesso em relação à crítica e ao público.

Scott Eyman/ Paul Duncan (John Ford – A filmografia completa)

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